ESPELHOS...

ESPELHOS VIVOS


Você chega em casa cansado, após um exaustivo dia de trabalho. Porém, está satisfeito! Conseguiu finalmente resolver um problema complicado que lhe tirava o sono há alguns meses. Ao abrir a porta, beija a esposa e senta confortavelmente no sofá. Ela lhe endereça um olhar furtivo e diz:
- Não vai tomar um banho e jantar?
- Agora não.
- Não precisa falar desse jeito! Tá com raiva por quê?
Opa! Você não está com raiva, pelo contrário! E também não a tratou mal! O que está acontecendo? Não há motivo para ela pensar isso de você! Calma, meu amigo! Há uma explicação. Antes de se perder em teorias e interrogações, tentando justificar o “ataque” da sua esposa, eu lhe sugiro que investigue como foi o dia dela e os prováveis aborrecimentos que teve e então você descobrirá quem realmente está com raiva. Isso mesmo: ELA! Isso tem um nome muito simples e você já deve ter ouvido falar: Projeção.
Trata-se de um mecanismo de defesa psíquico, muito usado por todos nós, neuróticos assumidos ou não, que se caracteriza por atribuir ao outro características pessoais. Assim, você chega em casa satisfeito e alguém lhe aponta o dedo, acusando-o de estar com raiva. Ou manda que seus filhos vão tomar banho porque você não agüenta o calor. Ou ainda, comenta com uma amiga o quanto outra engordou e se descuidou após o casamento, esquecendo o espelho que aponta gordurinhas salientes e cabelos desleixados. O espelho, esse objeto de amor e ódio de tantas pessoas, é implacável em seu julgamento. Contudo, ele nos apresenta características físicas que não agradam e provavelmente disfarçáveis. Para cinturinha que já não é de pilão? Malhação, dieta e lipo. Os cabelos começam a perder a cor? Uma passadinha no salão de beleza. A pele já não tem o mesmo viço? O creme mais milagroso do mercado. Tudo isso para que o próximo encontro já não seja tão decepcionante. Contudo, há coisas que esse espelho não mostra, mas que existem dentro de você. E como as gordurinhas, seria melhor não ver. Mas, existem espelhos por toda parte. Eles estão vivos, se movem, falam, sentem... Eles são humanos. Eles são as pessoas com quem convivemos. Nelas, vemos a raiva, a preguiça e a inveja que está dentro de nós. Vemos as partes perdidas de nós mesmos que não queremos achar, defeitos (qualidades também!) não assumidos que geralmente levam a grandes desentendimentos. Nelas, vemos o que gostaríamos de ser!
Então, meu amigo, da próxima vez que sua mulher o acusar de estar com raiva após você ter tido um dia feliz, e bem antes de se martirizar por não ser compreendido, pare e pense. Os espelhos estão em toda parte.